Monero é uma criptomoeda que possui uma blockchain opaca, com o objetivo principal de trazer privacidade para os seus usuários e fungibilidade para as suas unidades monetárias. Essas duas características a diferenciam da maioria das criptomoedas que possuem blockchains transparentes, entre as quais incluem-se o Bitcoin e o Ethereum, além de todas as moedas derivadas (Litecoin, Bitcoin Cash, tokens do Ethereum, etc.). Nessas moedas, todas as transações são registradas de maneira permanente em uma blockchain pública e transparente. Isso significa que todas as transações serão registradas abertamente por toda eternidade, para que qualquer pessoa do mundo possa verificá-las e rastreá-las.
Sabemos que o Bitcoin não é anônimo, ele é pseudoanônimo. Os endereços são compostos por diversos caracteres aleatórios (como 1DQPFgR86Nb8yvhGUGa8YLZg9NRyS6mcAf), passando uma falsa impressão de anonimato. No entanto, uma pessoa com informações suficientes sobre os endereços pode ser capaz de vinculá-los a identidades na vida real. Quando isso acontece, essa pessoa será capaz de descobrir muitas informações sobre o endereço, incluindo: quanto dinheiro foi recebido, quanto foi gasto, além de todas as transações já realizadas. Se a pessoa conseguir vincula outros endereços a outras identidades, ela também conseguirá deduzir em quais lojas você já comprou e com quais pessoas você já fez transações com Bitcoin. Em suma, com informações suficientes em mãos, isso seria o equivalente a ter todos os seus extratos bancários online para que qualquer pessoa possa ver.
Mas você não precisa acreditar em mim. Entre na seção Doações do site oficial do Monero, copie o endereço de doações em bitcoin da página (1KTexdemPdxSBcG55heUuTjDRYqbC5ZL8H) e cole em um explorador de blocos (veja aqui). Você conseguirá ver quanto há de dinheiro na carteira de doações em Bitcoin e todas as transações que essa carteira já teve, incluindo quais endereços enviaram doações. Agora imagine que essa é a sua carteira pessoal, com as suas economias e a sua privacidade! Agora faça a mesma coisa com o endereço Monero da página (44AFFq5kSiGBoZ4NMDwYtN18obc8AemS33DBLWs3H7otXft3XjrpDtQGv7SqSsaBYBb98uNbr2VBBEt7f2wfn3RVGQBEP3A), copie-o e cole-o em um explorador de blocos (veja aqui). Você irá receber uma mensagem de erro, pois os endereços Monero nunca são registrados de maneira transparente na blockchain.
Privacidade
A maioria das pessoas acham que privacidade é algo apenas para criminosos. Mas isso não é verdade, todo mundo deseja privacidade. Quando você vai ao banheiro, você fecha a porta, mas não porque você vai fazer coisas erradas lá dentro, e sim porque você quer ter privacidade. MAS você PODERIA estar fabricando uma bomba dentro do banheiro! Então talvez isso seria uma justificativa para proibir as pessoas de fecharem as portas enquanto usam os banheiros? É claro que não! Esse argumento não faz sentido. O mesmo é válido para a privacidade financeira. Só porque alguém PODERIA estar fazendo algo errado com uma moeda privada, isso não significa que nós deveríamos proibir todas as pessoas de terem a opção de fazer coisas em privacidade.

Se você ainda não estiver convencido, se você acha que não deve nada a ninguém e não tem nada a esconder, então eu lhe proponho um desafio: poste publicamente na internet todos os extratos das suas contas bancárias, dos seus cartões de crédito, do PayPal, etc. Mostre para todo mundo ver o que você andou comprando ultimamente… Não vai postar? Pois é, ninguém aceita esse desafio. E sabe por quê? Porque todos nós valorizamos nossa privacidade.
O Monero tem todas as vantagens que o Bitcoin tem, mas com um importante diferencial: ele respeita a sua privacidade. A comunicade Monero reconhece todos os benefícios que o Bitcoin oferece graças a surgimento da tecnologia blockchain e da mineração com prova-de-trabalho, como a imutabilidade, a descentralização e a resistência à censura. E, ao mesmo tempo, ela consegue perceber todos os riscos existentes para a privacidade pessoal quando se usa uma blockchain transparente.
Usando diversas tecnologias de privacidade, como as assinaturas em anel, as transações confidenciais em anel (RingCT) e os endereços stealth, o Monero ofusca e criptografa as principais informações sobre as transações que ocorrem em sua blockchain, de maneira que somente aqueles envolvidos nas transações possam saber os seus detalhes. Qualquer outra pessoa que estiver observando a blockchain passivamente não terá a menor idéia do que está acontecendo em alguma transação. Veja essa transação típica do Monero em um explorador de blocos. As únicas informações que são públicas sobre as transações são o número de entradas e saídas (inputs e outputs), a taxa de mineração, a data/hora e o tamanho da transação. Todas as outras informações são ofuscadas.
Fungibilidade
A privacidade do Monero permite que ele tenha uma importante característica que o Bitcoin não tem. Essa característica é a fungibilidade. Pode até ser que você já tenha ouvido essa palavra alguma vez na sua vida, mas a maioria das pessoas não sabem o que ela significa. Muitas pessoas só descobrem o que é fungibilidade quando tem suas criptomoedas retidas e/ou confiscadas em uma exchange. Mas não se preocupe,
para que você não tenha que passar por isso, vamos explicar-lhe o que é fungibilidade com exemplos fáceis de se entender.
Fungibilidade basicamente significa que uma unidade de alguma coisa possui o mesmo valor do que outra unidade dessa mesma coisa. Ainda está confuso? Vamos dar um exemplo: imagine que eu tenho uma nota de 50 reais, e você tem outra nota de 50 reais. Agora nós trocamos essas notas (eu fico com a sua nota e você fica com a minha). Agora, apesar de nós termos notas diferentes das que tínhamos anteriormente, nós ainda temos notas que valem 50 reais. Isso significa que nossas cédulas de real são fungíveis: apesar de termos realizado uma troca de unidades com o mesmo valor nominal, cada pessoa continuou com uma nota que possui o mesmo poder de compra que tinha anteriormente. Ou seja, o valor nominal das duas notas é igual ao valor real (de mercado). Em outras palavras, uma nota de 50 reais é indistinguível de outra nota de 50 reais. Isso parece lógico, mas não é assim que funciona com o Bitcoin…

Digamos que duas pessoas (pessoa A e pessoa B) fazem uma transação em Bitcoin por alguma coisa ilegal, como uma venda de drogas na darknet. Como já é amplamente conhecido, diversas agências do governo, companhias de análise de blockchain e espiões já possuem ferramentas avançadas que permitem a análise de blockchains públicas de moedas como o Bitcoin. Elas permitem agregar informações sobre os endereços públicos listados na blockchain, desta forma vinculando-os a pessoas da vida real. Como alguns endereços BTC dos mercados da darknet são conhecidos, nós sabemos que esse bitcoin em particular se originou de uma transação ilícita. Então podemos concluir que um bitcoin com passado ilícito é um bitcoin sujo. Você pode procurar no Google e pesquisar por conta própria, existem diversos casos de pessoas que receberam Bitcoins “sujos”, e quando tentaram enviá-los para uma exchange para trocá-los por dinheiro comum, as suas contas foram suspensas pois estavam sendo investigadas, mesmo que a pessoa não tenha participado da transação ilícita.
Imagine agora que um vendedor de uma loja online de roupas aceita bitcoins. A pessoa B resolve comprar nessa loja, pagando com o bitcoin “sujo”. Agora o vendedor possui um bitcoin “sujo”, mesmo que ele não tenha participado da transação ilícita que ocorreu no passado entre as pessoas A e B. Quando ele quiser enviar esse bitcoin “sujo” para uma exchange, ela pode ter sua conta fechada, ser investigado e ter seus fundos retidos.
Agora imagine que uma pessoa oferecesse para trocar 1 BTC dela por 1 BTC. Você comprou seus bitcoins em uma exchange, mas você não sabe a origem dos bitcoins dessa outra pessoa. Agora que você sabe que existem bitcoins “sujos” e bitcoins “limpos”, você aceitaria esse troca? É claro que não!

A possibilidade de se “sujar” um bitcoin significa que o Bitcoin não é fungível. Uma unidade de bitcoin não é indistinguível da outra. Alguns bitcoins tem uma passado “limpo”, enquanto outros tem um passado “sujo”. Ao receber um Bitcoin, as pessoas deveriam se preocupar sobre a origem dele. Voltando ao nosso exemplo anterior: você possui 1 BTC e eu também possuo 1 BTC e nós trocarmos nossas moedas. Como o Bitcoin não é fungível, pode ser que alguém saia perdendo nessa troca. Em outras palavras, pode ser que haja uma transferência de valor, basta que um de nós tenha 1 BTC “sujo”.

A única maneira de se defender contra isso é tendo privacidade por padrão e mandatória, fazendo com que nenhuma moeda tenha um histórico identificável, de maneira que todas elas se tornem iguais e indistinguíveis. Um exemplo disso são as notas de real em sua carteira. Você não sabe de onde elas vieram, e você não se preocupa se elas foram usadas no passado em uma transação ilícita. Como elas são fungíveis, você sabe que sempre poderá usá-las para comprar coisas. O Monero também funciona assim, pois ele também é fungível, assim como as notas de real na sua carteira. Você não sabe por onde suas moedas de Monero andaram até chegar na sua carteira, e isso não interessa. Você não liga para isso, pois ninguém tem como saber por onde elas andaram. E por causa disso você sempre pode usá-las para comprar o que quiser, sem se preocupar em ser investigado ou ter o seu dinheiro rejeitado/confiscado.

O Monero foi criado para resolver um problema: a falta de privacidade em blockchains públicas. Ao resolver a falta de privacidade, ele resolveu também o problema da falta de fungibilidade. Em função disso, podemos dizer que o Monero possui um caso de uso legítimo, que envolve todas as pessoas que participam do universo das criptomoedas, e não apenas um pequeno nicho. Por esse motivo, eu acredito que o Monero tenha valor e eu acredito que ele tem um grande potencial para mudar o mundo. É só uma questão de tempo até as pessoas começarem a perceber o quão assustadora é a falta de privacidade e de fungibilidade nas moedas com blockchain transparente. E quando elas se darem conta disso, elas vão migrar para as moedas que possuem as melhores garantias de privacidade, das quais, atualmente, Monero é a melhor.
Este texto foi adaptado da versão original em inglês escrita por Diego “rehrar” Salazar.
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