Tanto o Monero como o Bitcoin são criptomoedas que possuem objetivos similares, porém se comportam de maneira bem distinta. Uma moeda não é baseada na outra, portanto são poucas as similaridades técnicas. Detalhamos aqui as principais diferenças tanto ao nível ideológico como ao nível do protocolo.
Privacidade
O Monero foi desenvolvido baseado no protocolo CryptoNote, que é um protocolo completamente diferente do protocolo usado pelo Bitcoin. A principal diferença entre os protocolos é que o primeiro visa proteger as informações sensíveis de cada transação financeira, enquanto o Bitcoin é completamente transparente e não oferece nenhuma privacidade.
A privacidade do Monero é alcançada através das seguintes tecnologias:
- Assinaturas em anel: escondem o remetente
- Transações confidenciais em anel (RingCT): escondem a quantia da transação
- Endereços stealth: escondem o remetente
- Redes de anonimato (I2P ou TOR): escondem a transmissão da transação para a rede (o endereço IP de quem envia)
Estas são técnicas de criptografia complexas, mas que já foram estudadas e revisadas pelos maiores talentos em engenharia e criptografia do mundo. Se você quiser aprender em maiores detalhes como elas funcionam, leia esse artigo.
O problema mais crítico do Bitcoin é a falta de privacidade. Ao realizar uma transação em Bitcoin, a contraparte pode facilmente ver o seu saldo e rastrear todas as suas transações passadas num piscar de olhos. Para que você entenda o quão crítica é essa situação, considere os cenários abaixo:
Sua segurança física
Imagine que você está viajando em partes do Brasil ou do exterior que possuem uma taxa de criminalidade elevada. Você decide usar Bitcoin para comprar uma lembrança ou pagar a diária do hotel.
Todas as pessoas com quem você realiza uma transação possuem acesso ao saldo de sua carteira Bitcoin. Sabendo quanto dinheiro você tem, alguém mal intencionado poderia facilmente planejar um assalto ou sequestro, colocando sua segurança física em perigo.
Negociações com fornecedores
Imagine que você é proprietário de um comércio que realiza transações em Bitcoin. Todos os seus fornecedores que utilizarem Bitcoin terão acesso imediato aos fundos da sua empresa. Eles saberão exatamente qual a sua sensibilidade aos preços numa futura negociação.
Analisando um blockchain transparente, seus competidores e fornecedores poderão ver todos os pagamentos que foram realizados pelo seu comércio, determinando a quem são destinados e quanto você paga. Essas são informações comerciais extremamente sensíveis que impactam diretamente sua posição de negociação.
Fazendo compras online
Navegando em lojas virtuais você decide realizar pagamentos de um produto ou serviço usando Bitcoin. Você também sabe que é uma prática comum das grandes lojas usarem algoritmos de discriminação de preço. Ao usar uma moeda com blockchain transparente, não será difícil que as lojas identifiquem qual o maior preço que você pode pagar por um serviço, fazendo com que você saia no prejuízo.
Moedas marcadas
Você tem um restaurante e aceita Bitcoin como forma de pagamento. Em uma operação policial descobre-se que um Bitcoin usado no seu restaurante havia sido negociado anteriormente em uma operação de tráfico de drogas. Como o blockchain é transparente, você acaba se transformar em um possível suspeito num caso criminal.
A polícia será obrigada a fazer uma investigação para saber se você possui alguma relação com os criminosos que usaram essa moeda no seu restaurante. Isso é um grande ataque à reputação de qualquer comércio. Para piorar, é possível que seus fornecedores recusem esse Bitcoin pois ele foi “marcado” e adicionado em uma lista negra.
O Monero resolve esses problemas de privacidade aplicando de forma obrigatória técnicas de criptografia que ofuscam as informações sensíveis de cada transação. Você pode ter certeza que nunca haverá um Monero “marcado”. Esse é um antigo conceito econômico conhecido como fungibilidade. Ele é historicamente considerado como uma importante característica de qualquer moeda.
Além disso, o Monero não possui nenhum problema em se adaptar aos orgãos regulamentadores do governo, pois ele possui transparência seletiva. Você pode compartilhar uma chave de visualização com uma outra entidade e ela poderá ver o seu saldo e as transações que você efetuou, porém ela não terá nenhum controle sobre seu dinheiro.
Algoritmo de Mineração
Mineração é o nome dado ao processamento das transações dentro da rede do blockchain. Nossa opinião é que o Bitcoin escolheu mal o seu algoritmo de mineração, pois ele executa de forma muito mais rápida em computadores customizados (chamados de ASICs). Isso faz com que seja virtualmente inútil uma pessoa como eu ou você, com um computador normal, participar do processo de mineração, pois ele é monopolizado pelas grandes empresas que usam os ASICs. Em contraste, o Monero possui um algoritmo chamado RandomX, que foi desenhado especificamente para evitar este monopólio.
Este ponto é importante pois significa que toda e qualquer pessoa que tenha acesso a um computador ou laptop pode participar do processo de mineração do Monero, que dá recompensas em novas moedas aos mineradores. Isso é importante para a descentralização da rede e uma melhor distribuição de renda.
Para representar melhor ainda essa diferença, no Brasil não existe nenhuma grande operação de mineração de Bitcoin, pois é preciso investir milhares de dólares na aquisição dos chips ASICs para ter uma pequena chance de lucro. Em contrapartida, o Monero dá uma real oportunidade aos Brasileiros de adquirirem e acumularem criptomoedas.
Minerar Monero é um processo que não precisa ser difícil e qualquer pessoa pode participar. Entenda melhor o processo de mineração e veja como os computadores de sua casa podem te ajudar a ganhar dinheiro.
Blocos dinâmicos (de tamanho adaptável)
Quando você realiza transações em Monero ou Bitcoin, elas são introduzidas pelos mineradores em um “bloco”. Os blocos do Monero são produzidos aproximadamente a cada 2 minutos, enquanto os blocos do Bitcoin tomam 10 minutos. Cada transação possui um tamanho em bytes que é introduzido no bloco. Os blocos do Bitcoin possuem um tamanho máximo em megabytes, o que significa que se a sua transação ficar de fora, será preciso esperar um novo bloco. Essa característica congestiona a rede do Bitcoin. E por isso que às vezes vemos transações que demoram horas ou até mesmo dias para serem confirmadas no Bitcoin. Para que sua transação seja confirmada mais rapidamente, é preciso pagar taxas maiores à rede.
Essa limitação no tamanho do bloco não deve ser considerada como um mero detalhe. Lembre-se que foi exatamente este debate que levou à criação da moeda Bitcoin Cash, operada no mercado em mais de 1500 dólares por unidade1. O Bitcoin Cash foi um hardfork do Bitcoin que aumentou o tamanho dos blocos de 1 megabyte para 8 megabytes
O Monero, no entanto, foi desenhado de forma que seu bloco não possui um tamanho máximo. Ele possui blocos de tamanho dinâmico, que se adaptam de forma automática de acordo com o número de transações na rede. Ou seja, mesmo se o número de transações aumentar drasticamente, o Monero poderá acomodá-las sem problemas.
Outras implementações
O Projeto Monero é desenvolvido de forma constante e novas funcionalidades já estão previstas no seu roadmap. Dentre elas, a implementação de integração com redes de anonimato, como a TOR e a I2P, que ofuscarão as conexões na rede Monero. Isso significa que não somente os dados de suas transações estarão protegidos, mas também a sua conexão. Este tipo de funcionalidade é importante para países e regiões que sofrem com censura – como a China que possui uma internet altamente censurada.
O Monero e o Bitcoin possuem outras diferenças técnicas, se você quiser discutir sobre elas, entre no nosso grupo de WhatsApp e ficaremos felizes em responder suas dúvidas.
1 Dados do CoinMarketCap em 12 de Novembro de 2017.