Como é realizada a emissão de moedas do Monero?

A grande maioria dos usuários de criptomoedas já sabe como funcionará a emissão de moedas no Bitcoin: serão minerados um máximo de 21 milhões de unidades, até o ano 2140 e, depois, o lucro dos mineradores será proveniente das taxas das transações. Embora a tecnologia de blockchain já se demonstrou segura até agora, ninguém tem certeza de que essa transição de recompensa de blocos para taxa de transações irá funcionar.

Ao analisarem essa situação, os desenvolvedores do Monero resolveram modificar e otimizar alguns dos parâmetros que regem a emissão de moedas, como retirar o limite máximo de moedas a serem mineradas e introduzir uma emissão em cauda. Neste artigo iremos explicar os motivos pelos quais essas decisões foram tomadas.

Por que as criptomoedas são mineradas?

A grande maioria das criptomoedas são geradas através de um processo chamado prova-de-trabalho, no qual “mineradores” realizam o trabalho de tentar resolver problemas matemáticos e, cada vez que conseguem resolver um destes problemas, eles publicam na rede um bloco contendo as transações, recebendo como recompensa uma quantia de moedas novas, recém-criadas, conhecida como “recompensa do bloco”.

No entanto, a recompensa do bloco não é a única fonte de renda dos mineradores. Ao minerar um bloco, seja no Bitcoin ou no Monero, o minerador recebe dinheiro de duas fontes diferentes: 1) a recompensa do bloco (emissão de novas moedas) e 2) as taxas que os usuários pagam a cada transação.

Emissão de moedas no Bitcoin

Tanto no Bitcoin quanto no Monero, a emissão inicial segue uma fórmula que rege a recompensa por bloco, que é decrescente.

No Bitcoin, esta fórmula considera a oferta total como 21 milhões de unidades. Depois de estas 21 milhões de unidades terem sido mineradas, mais nenhuma unidade de Bitcoin será minerada. A emissão inicial do Bitcoin ocorrerá até 2140, quando o limite máximo de 21 milhões de unidades de bitcoins terão sido mineradas. Como a recompensa dos blocos do Bitcoin se reduz a cada quatro anos pela metade (evento conhecido como halving), a última unidade de Bitcoin será minerada por volta do ano 2140. A partir deste momento, não será possível minerar mais nenhum bitcoin, e o lucro dos mineradores será proveniente exclusivamente das taxas que os usuários pagam a cada transação.

E o que acontecerá com a mineração do Bitcoin quando a recompensa do bloco for muito pequena? Ninguém sabe se no futuro as taxas das transações serão um incentivo econômico suficiente para manter os mineradores interessados em minerar Bitcoin. Havendo poucos mineradores interessados em Bitcoin, a segurança da rede pode ser comprometida.

Mas muitos maximalistas do Bitcoin irão dizer “Fique tranquilo, o ano de 2140 ainda está muito longe…, estaremos todos mortos até lá!“. O que eles não percebem é que os efeitos da redução da recompensa serão sentidos muito antes, já a partir do 5º halving, previsto para 2028, quando a inflação anual do Bitcoin passará a ser menor que 0,5%, e, portanto, menor que a inflação anual do Monero neste mesmo período, que será de 0,8%.

Emissão de moedas no Monero

No Monero, a oferta total pré-definida é de 18,4 milhões de unidades iniciais. Ao contrário do Bitcoin, após estas 18,4 milhões de unidades iniciais terem sido mineradas, os mineradores do Monero ainda continuarão minerando novas moedas. Isso é conhecido como emissão em cauda, que foi ativada quando a recompensa por bloco atingiu 0,6 XMR, dois anos antes da oferta total alvo ser atingida.

A emissão inicial de moedas do Monero foi muito mais rápida que o Bitcoin e ocorreu até o dia 9 de junho de 2022, quando 18,1 milhões de unidades foram mineradas e a recompensa por bloco atingiu 0,6 XMR.

A emissão em cauda do Monero foi ativada quando a emissão inicial encerrou, em 9 em junho de 2022. Ela é uma emissão de uma quantidade fixa de moedas a cada bloco minerado. Cada vez que um bloco for minerado (o que ocorre a cada dois minutos no Monero), uma recompensa fixa de 0,6 XMR é criada para o minerador. São gerados 0,6 XMR a cada dois minutos, o que equivale a 18 XMR/hora, 432 XMR/dia, 12.960 XMR/mês e 157.680 XMR/ano. Isso cria uma inflação perpétua menor do que 1% (cerca de 0,87%/ano em junho de 2022). Como o Monero sempre terá recompensa de bloco para os mineradores, isso servirá como incentivo para que eles continuem interessados em minerar a moeda.

Ela gera uma oferta infinita de moedas, e garante que os mineradores tenham sempre um incentivo para minerar Monero, mantendo a rede segura. Uma situação diferente ocorre no Bitcoin: quando o último bloco for minerado no Bitcoin, os mineradores deixarão de receber a recompensa do bloco e receberão apenas o dinheiro das taxas da transações. Os efeitos disso poderão ser sentidos até mesmo antes de o último bloco ser minerado, pois as taxas de transação do Bitcoin terão que ser aumentadas para que os mineradores mantenham o mesmo rendimento.

A grande sacada é que a emissão em cauda é linear, ou seja, ela produz um número fixo de moedas por ano (157.680 XMR/ano). Isso fará com que a inflação anual do Monero esteja sempre reduzindo em direção a 0%, a partir do ponto inicial de 0,87%. Para fins comparativos, na última década, a oferta mundial de ouro sobre o solo tem inflacionado 1,7%/ano. Portanto, podemos considerar que o Monero é uma moeda com inflação baixa (<0,9%) e do tipo desinflacionária (com inflação decrescente ao longo dos anos).

A emissão em cauda é um tópico polêmico entre os usuários maximalistas do Bitcoin, que acreditam que a inflação do Monero se assemelharia à inflação das moedas fiduciárias. No entanto, a macroeconomia de uma inflação nominal linear é uma situação completamente diferente de uma inflação nominal exponencial. Veja abaixo dados para cada ano da emissão em cauda:

Como podemos ver na tabela, como a quantidade de emissão de novas moedas por ano é fixa e o total de unidades em circulação cada vez aumenta, a inflação anual decresce constantemente. Portanto, a emissão em cauda do Monero faz com que a inflação anual seja previsível, muito pequena (<0,9%) e decrescente a cada ano que passa.

Quais são as principais funções e vantagens da emissão em cauda?

Ter uma recompensa de bloco infinita tem as seguintes vantagens:

• Servir como incentivo financeiro adicional para manter os mineradores interessados em minerar Monero: no Monero, os mineradores sempre terão dois incentivos financeiros, a recompensa do bloco e as taxas das transações
• Garantir menores taxas de transação: a emissão em cauda ajuda a manter o Monero usável pelos usuários, ao manter as taxas baixas (os mineradores dependem menos das taxas para manter a segurança da rede)
• Servir como desincentivo (penalidade) para que os mineradores não aumentem os blocos: como o Monero tem a tecnologia de blocos dinâmicos, os mineradores tem a opção de aumentar o tamanho do bloco infinitamente. No entanto, se um minerador tentar criar um bloco maior do que o tamanho mediano dos últimos 100 blocos, uma penalidade será subtraída da sua recompensa (leia mais nesse artigo). Se não houvesse essa penalidade, os mineradores poderiam criar blocos gigantescos gratuitamente, sem perder nada com isso, o que iria comprometer a descentralização da rede Monero. Resumindo, se os mineradores quiserem aumentarem os blocos, eles precisarão pagar por isso através de suas recompensas do bloco.
• Repor as moedas que foram perdidas ao longo do tempo: muitas moedas saem de circulação todos os anos, pois muitas pessoas perdem suas carteiras e sementes mnemônicas, e algumas morrem antes de avisar seus familiares que tinham algumas economias em Monero.
• Distribuir de maneira mais justa os custos para se manter a segurança da rede: no futuro, os custos do Bitcoin serão pagos apenas através das taxas das novas transações, ou seja, principalmente pelos usuários novos. No Monero, esses custos serão pagos principalmente através de uma mínima desvalorização anual (perda no poder de compra) de todas as moedas da rede, ou seja, por todos os usuários (antigos e novos).

Conclusão

A emissão em cauda do Monero garante que sempre exista uma recompensa de bloco. Portanto, no Monero, os mineradores sempre terão como fonte de renda as recompensas de bloco e as taxas pagas pelos usuários, enquanto, no Bitcoin, os mineradores sempre receberão as taxas pagas pelos usuários, mas só receberão recompensas de bloco até o ano de 2140.

Tabela comparativa

A tabela abaixo foi gerada a partir dos dados fornecidos por uma planilha da comunidade.